Quem é Sandro Lins?É médico pediatra, perito em trânsito, membro da ACALA (Academia Arapiraquense de Letras e Artes), ex-secretário de Saúde de Craíbas e gosta de dar opinião sobre tudo.
25/09/2021 14:58:17
As eleições e a justiça
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"A ninguém venderemos, a ninguém recusaremos ou atrasaremos, direito ou justiça."
Artigo 40 da Magna Carta, documento de 1215, que limitou os poderes absolutos do rei na Inglaterra, atualmente existem 17 cópias do texto, existe uma no Brasil, localizada no Tribunal Superior do Trabalho em Brasília – DF. Considera-se a Magna Carta o primeiro capítulo de um longo processo histórico que levaria ao surgimento do constitucionalismo.
Na quinta-feira santa, Jesus Cristo celebrou a última missa com os apóstolos, foi traído, entregue, mesmo sem ter pecado, e condenado à morte, e morte dolorosa, morte de cruz. Seu mais importante aliado, o fundador da sua Igreja, o negou três vezes, os tribunais deixaram seu julgamento para a democracia, a justiça de Pilatos não o condenou, a justiça de Herodes não o condenou, foi a democracia, o voto popular, que preferiu libertar Barrabás, um homicida e ladrão, mas um líder político das massas, que promovera uma rebelião em Jerusalém.
Já pequei muito em minha vida, já condenei em minha mente e meu coração homens públicos, mesmo sem me colocar no lugar deles; fiz julgamentos morais, éticos, políticos, e outros, que não se pode aqui falar. Mas jamais tive medo de ser governado por ladrões ou políticos desonestos. Como diz Santo Agostinho “o que é o governo, senão um bando de ladrões?”. O homem justo peca sete vezes por dia, diz o livro dos provérbios, então quem sou eu para julgar alguém? Eu que sou pecador, injusto, infiel aos compromissos assumidos com Deus, tantas vezes traído, tantas vezes opressor, tantas vezes humilhado, não tenho procuração de ninguém para julgar ou condenar!
Mas como cristão, o que diz o catecismo da Igreja Católica, no seu artigo 2242, falando sobre os deveres do cidadão:
O cidadão é obrigado, em consciência, a não seguir as prescrições das autoridades civis, quando tais prescrições forem contrárias às exigências de ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho. A recusa de obediência às autoridades civis, quando as suas exigências forem contrárias às da recta consciência, tem a sua justificação na distinção entre o serviço de Deus e o serviço da comunidade política. «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus» (Mt 22, 21). «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens» (Act 5, 29):«Quando a autoridade pública, excedendo os limites da própria competência, oprimir os cidadãos, estes não se recusem às exigências objectivas do bem comum; mas é-lhes lícito, dentro dos limites definidos pela lei natural e pelo Evangelho, defender os seus próprios direitos e os dos seus concidadãos contra o abuso dessa autoridade» (27).
É certo que o povo, os eleitores - e não políticos agindo em interesse próprio - poderiam decidir o destino da nação. Mas não é isto que está acontecendo no Brasil, o que pode mudar nossas vidas é descobrir que um único homem honesto pode mudar o mundo, é descobrir que a balança da justiça não pode pender só para o lado dos oprimidos, que os poderosos podem sentir o peso da espada da justiça, que ninguém está acima da lei. Não tenho medo de ser governado por péssimos administradores, por políticos que acham que a prefeitura é uma continuação da sua casa, por marionetes manobradas pelo político que ali a colocou para perpetuar o seu poder, por Partidos Traidores dos seus eleitores e que traem sua própria razão de existir. Afinal, quem nunca foi traído? Para a traição há solução: comprar um cd do Reginaldo Rossi, ou ouvir a música ser corno ou não ser do Mamonas Assassinas, e perceber no final que foi uma coisa boa, porque finalmente conseguiu perder peso. Mas ninguém é obrigado a se conformar com a traição.
Afinal, qual o nosso medo? Não é de trocar um ladrão por outro ladrão, isto nada muda, então não deveria haver objeção. O nosso medo é ver a justiça se dobrar de joelhos, quando deveria limitar os poderes dos poderosos. Em 1215 na Inglaterra, um rei absoluto se dobrou a primeira vez de joelhos perante a justiça, isso mudou a história do ocidente. Se a justiça é menor que a democracia, qual o futuro dos pobres? Continuar oprimidos pelos governos, que os enganam? Como impedir que os prefeitos de nossas cidades continuem tendo poderes imperiais, que os deputados pratiquem injustiças, que senadores prefiram aumentar seus patrimônios e não a riqueza dos seus estados? Que os governadores deixem de fazer o bem aos pobres, porque naquele município o prefeito é adversário político. Que nos tribunais os ricos fiquem livres não por serem inocentes, mas pelo uso da corrupção. E os pobres continuem fazendo que o Brasil tenha a quarta maior população carcerária do mundo, enquanto os poderosos se forem presos estarão em domicílio.
É nossa chance, talvez única na história, de mudar a lei, reduzir o poder dos donos do país, aumentar a liberdade do homem, para virar de fato um cidadão, de praticar a justiça, e dar exemplo do mundo. Neste ano que vem sigamos o exemplo de Cristo, pensar no próximo, e praticar a justiça.
“O papel mais arriscado, quero-o para mim. Esta terra há de ser um dia maior que a Nova Inglaterra. Se todos quisermos, poderemos fazer deste país uma grande nação. Vamos fazê-la.”(Tiradentes)
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