OUÇA AO VIVO A 96FM
(82) 98876-8488 Whatsapp Diário Arapiraca
Dólar hoje R$ 5,112 Arapiraca, AL 30ºC Tempo nublado
Notícias
16/04/2024 17:12
Brasil

Fora da cadeia, Daniel Cravinhos pede perdão a Andreas von Richthofen em carta

'Sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?'
Daniel Cravinhos, condenado pela morte de Manfred von Richthofen / Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo
Redação com O Globo

Condenado a 39 anos de prisão pela morte de Manfred von Richthofen, ocorrido em 2002, Daniel Cravinhos quer se reaproximar de Andreas von Richthofen, hoje com 36 anos e um dos filhos da vítima — ele é irmão de Suzane Magnani, ex-Richthofen, também sentenciada pela execução dos pais (Cristian Cravinhos, irmão de Daniel, é o terceiro assassino confesso). Atualmente, Andreas vive isolado em um sítio no município de São Roque, a 450 quilômetros de São Paulo.

Em entrevista ao blog, Daniel conta que sempre teve vontade de procurar Andreas, pois ambos possuíam uma amizade muito forte antes do duplo homicídio. No entanto, diz, havia o receio de que o irmão de Suzane, com quem Cravinhos namorava à época das mortes, se sentisse ameaçado com a sua presença.

 

“No passado, antes do julgamento, Suzane tentou encontrá-lo, e ele foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência contra ela. Tenho esse medo”, admite. Cumprindo pena em regime aberto desde 2017, embora a condenação vá até 2041, Cravinhos poderia ser forçado a voltar para a cadeia caso fosse denunciado por Andreas, por exemplo.

A família de Daniel tem uma chácara próxima ao local onde Andreas está morando. Um amigo em comum já tentou intermediar uma primeira conversa. Andreas, contudo, teria ficado abalado só de ouvir o ex-cunhado no viva-voz. “Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos, mas compreenderei se preferires não olhar na minha cara”, afirma Daniel em uma carta aberta destinada ao ex-amigo, à qual o blog teve acesso.

 

 

Em 2017, Andreas tentou uma reaproximação com a irmã, procurada por mensagens de WhatsApp no período em que morava em Angatuba (SP) e estava casada com o marceneiro Rogério Olberg. O caçula do casal von Richthofen chegou a se arrumar para um jantar com Suzane, mas, quando já passava de carro pela rodovia Raposo Tavares (BR-374), resolveu dar meia-volta e retornar para a capital paulista.

 

 

Em seguida, Andreas foi visto correndo desorientado pelas ruas do bairro Chácara Monte Alegre, na Zona Sul de São Paulo. Ele acabou encontrado por policiais após pular o muro de uma casa, sendo levado para uma clínica de tratamento para dependentes químicos.

 

 

Na carta, Daniel diz que Andreas é a maior vítima do crime que chocou o país em 2002 e pede perdão. “É com toda a sinceridade e humildade que peço tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o dano que lhe causei”, diz o piloto.

 

Leia abaixo a íntegra da carta de Daniel para Andreas

"Querido Andreas,

Após sete anos de reflexão, finalmente encontro coragem para escrever a você. Sinto-me apreensivo com a sua possível reação ao ler essa carta. Recentemente, tomei conhecimento de notícias suas por meio de amigos em comum e pela imprensa, o que me levou a tomar a decisão de pôr para fora o que estou sentindo.

Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado.

Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu. Hoje, ao praticar motovelocidade, a imagem do seu rosto vem à minha mente. Como seria bom ter você ao meu lado, correndo em uma moto. Lembra do mobilete que construímos juntos?

Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?

Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Lembro do dia da reprodução simulada feita na sua casa duas semanas após o crime, quando você abraçou o Cristian e me olhou emocionado. Quando íamos nos abraçar, os policiais não deixaram. Entendi o seu gesto de carinho como um perdão. Contudo, você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos.

Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. No entanto, a culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias.

Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.

Mas, se você preferir manter distância, respeitarei. Apenas desejo saber o tamanho do abismo emocional que nos separa para saber se é possível atravessá-lo. Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?

Daniel Cravinhos" 


Link da página:

Utilize o formulário abaixo para enviar ao amigo.

Brasil